Sargento Zacarias: um sergipano herói da Segunda Guerra Mundial

*Por Paulo Márcio Ramos Cruz

Os sucessivos ataques do submarino alemão U-507 a diversas embarcações brasileiras, entre os meses de janeiro e agosto de 1942, levaram o país a declarar guerra à Alemanha nazista e à Itália fascista, que compunham, juntamente com o Japão, as temíveis Potências do Eixo.

Dentre os navios torpedeados a mando do Capitão de Corveta alemão Harro Schacht, três encontravam-se na costa sergipana: o Baependi, o Araraquara e o Aníbal Benévolo. O naufrágio das três naus resultou em quase seis centenas de mortos, muitos dos quais chegaram ao  litoral aracajuano trazidos pelas correntes, causando comoção, indignação e revolta. 

Entre os indignados com tamanha covardia contra civis brasileiros totalmente alheios à guerra entre o Eixo e os Aliados, havia um jovem maruinense de nome Zacarias Izidoro Cardoso, cujo amor à pátria e aos concidadãos logo se converteu em chamado para lutar contra o nazifascismo, não importando em que parte do mundo o inimigo estivesse.

Foi assim que o então soldado Zacarias, alistado no 28° Batalhão de Caçadores, em Aracaju, incorporou-se à Força Expedicionária Brasileira - FEB, partindo para a Itália em janeiro de 1944, ao lado dos combatentes da VI Companhia do 2° Batalhão do 11° Regimento de Infantaria.

A bravura e o destemor de Zacarias em solo italiano renderam-lhe não só a fama que o acompanharia por toda a vida como dois apelidos que bem expressam a admiração tanto dos seus irmãos de arma como do alto comando do Exército Brasileiro.

Entre pracinhas e oficiais da FEB, era conhecido como  "O Louco de Pisa", tamanha sua disposição para aceitar, voluntariamente e sem titubear, as mais difíceis missões no campo de guerra, não sendo raras as ocasiões em que colocou a vida em risco para salvar companheiros feridos em batalha. 

Daí ter sido batizado de "O Leão da FEB"  por ninguém menos que o general Castelo Branco, presidente do Brasil entre 1964 e 1967 e considerado um dos maiores estrategistas da Força Expedicionária Brasileira na Itália. 

Após lutar bravamente contra os nazifascistas, Zacarias foi gravemente ferido na Tomada de Montese - a bem da verdade, atingido nas costas por uma granada. Dado como morto, chegou a ser colocado em uma pilha de cadáveres para ser sepultado, mas as poucas forças que lhe restaram foram suficientes para lhe pemitir emitir um abafado pedido de socorro em português, ocasião em que foi socorrido por um grupo do qual fazia parte, coincidentemente, a enfermeira Jane Dantas, natural de Riachão do Dantas, Sergipe.

Levado às pressas para o Hospital Americano em Livorno, Zacarias foi posteriormente transferido para outro hospital nos Estados Unidos, onde foi submetido a 19 cirurgias, retornando a Maruim, sua terra natal, somente dois anos após o fim da guerra - o último herói a retornar para casa, segundo os historiadores. 

O herói sergipano que não temia granadas, campos minados e projéteis de qualquer calibre - mas apenas o frio italiano, segundo suas próprias palavras - finalmente fechou seus olhos físicos em 25 de dezembro de 2011, aos 88 anos de idade. 

Na Semana da Pátria, nada mais justo do que revenciar esse verdadeiro e, lamentavelmente, esquecido herói, cuja bravura, além de reconhecida em vida, rendeu-lhe importantes comendas e medalhas, como a Silver Star, concedida pela ONU somente a quatro pessoas no mundo, e a medalha Sangue do Brasil, honraria conferida a apenas oito brasileiros.

Como somos um país sem memória, convém lembrar que em 02 de janeiro de 2023 teremos o ensejo de comemorar o centenário de nascimento do Sargento Zacarias, cuja memória é digna de todas as honrarias e homenagens concedidas aos grandes heróis da pátria. 

*é delegado de polícia civil do Estado de Sergipe