Mais de 860 mil sergipanos já receberam o Auxilio Emergencial

O Auxílio Emergencial concedido pelo Governo Federal termina no final de dezembro. Através desse programa criado para fazer frente à crise criada pela pandemia de covid-19, R$ 3,7 bilhões foram pagos aos beneficiários em Sergipe até o dia 17 deste mês. Ao todo, 867.216 sergipanos receberam o auxílio, o que corresponde a 37,40% da população do estado, pelos dados do Ministério da Cidadania. Desde o dia 9 de abril, quando se iniciou o pagamento, foram creditados R$ 288,7 bilhões para 67,9 milhões de brasileiros – a maior ação de transferências sociais e de bancarização da história do Brasil, segundo a Caixa.

O benefício é destinado aos trabalhadores informais, microempreendedores individuais (MEI), autônomos e desempregados. Em setembro, o auxílio foi reduzido para R$ 300, metade da quantia concedida nos primeiros cinco meses do programa. O calendário de créditos do último ciclo iniciou dia 13 deste mês e vai até o próximo dia 29.

Na capital sergipana, Aracaju, segundo dados do Ministério da Cidadania, são um total de 196.392 beneficiários. Desses, 39.931 recebem o Bolsa Família e 30.766 não, porém são inscritos no Cadastro Único, que agrega todos os programas sociais. O maior universo, de 125.695 pessoas, é composto por beneficiários Extracard, ou seja, que não recebiam nenhum tipo de benefício e se cadastraram pelo aplicativo para ter direito ao auxílio, a única renda para muitas famílias que se viram - e ainda se veem - enfrentando prejuízos e dificuldades em função da pandemia.

Diante do anúncio de que o auxílio deve ser encerrado no fim do ano, confirmado pelo Ministério da Economia; com projetos na Câmara e no Senado, alguns deputados federais e senadores pedem a prorrogação do programa, tendo em vista as medidas sanitárias ainda em vigência, os prejuízos e as dificuldades econômicas da crise do coronavírus e a escalada do número de casos, levando-se em conta que a pandemia continua e que a vacina ainda não está disponível. E, mesmo quando estiver, também não chegará prontamente a todos os brasileiros.

O economista Luiz Carlos Ribeiro, professor da Universidade Federal de Sergipe (UFS), explica que o encerramento do auxílio no estado trará reflexos imediatos nas contas da população, uma vez que o auxílio serve para garantir uma renda mínima. “Obviamente têm aqueles indivíduos que são detentores do Bolsa Família, mas aqueles indivíduos, principalmente que eram trabalhadores informais, vão ser os mais prejudicados, pois vão perder renda. Então, pagamento de contas, alimentos, uma série de coisas vai ser prejudicada na vida dessas pessoas”, afirma Ribeiro. Com outros pesquisadores, ele fez simulações sobre os potenciais impactos econômicos da pandemia no estado e sobre os efeitos do auxílio na economia, através do projeto EPI Sergipe.

Conforme o professor, no âmbito da economia sergipana, o término do benefício tende a gerar efeitos negativos sobre o consumo, já que diversos estudos vêm mostrando que o auxílio emergencial atenuou o impacto sobre o PIB via consumo. Um deles aponta setores que teriam o prejuízo mais atenuado pela política compensatória em atividades como imobiliárias, serviços às famílias, alojamento, alimentação e comércio. “Na medida que a economia estava ainda engatinhando ou ainda muito restrita por conta da pandemia, o auxílio garantia para as pessoas o consumo na economia; basicamente o auxílio se revertia completamente em consumo e por isso que ele atenuava o impacto sobre o PIB. É de se esperar que, com o fim do auxílio, esse impacto volte a subir. Obviamente que hoje a economia já está numa retomada, num cenário menos pior do que no início da pandemia, nos meses de abril e maio, uma vez que a arrecadação do ICMS, que é o principal imposto estadual, por exemplo, começou uma leve recuperação já a partir do mês de julho”, explica.

Tendo em vista que o auxílio emergencial é uma renda mínima e se converte prioritariamente em consumo, a possibilidade de queda nas vendas no comércio sergipano e as dificuldades em pagamento de dívidas da população também é considerada. “É possível que o comércio sofra um pouco por conta do final do auxílio. É claro que na medida que outros empregos vão sendo criados e, consequentemente, renda na economia passa a ser criada, pode haver um efeito compensação. Alguns resultados também de emprego formal do Caged começaram a apresentar sinais de melhora nos últimos meses. E mais uma vez o auxílio também pode afetar o pagamento de dívidas da população, principalmente da população mais carente e dos desempregados, uma vez que eles contavam com auxílio para sanar essas dívidas”, ressalta.

Por outro lado, a continuidade do pagamento desse benefício também pode afetar as contas públicas. O economista considera que, embora os resultados econômicos mostrem que o benefício atenuou bastante o impacto sobre o PIB na pandemia, ele também gera um endividamento do setor público que já vinha em situação precária nos últimos anos.

“É claro que a continuidade do auxílio emergencial não é um assunto trivial, ele tem que ser bastante discutido. A relação dívida x PIB aumentou muito, está em quase 100%. É claro que o Governo também tem que mostrar, tem que sinalizar para o mercado como ele vai resolver esse problema a longo prazo, porque senão isso pode reverter em um ambiente de incerteza, que pode gerar uma queda de expectativa de investimento por parte dos empresários. Obviamente, olhando para o lado social, é de suma importância o auxílio emergencial”, diz.

A UFS ainda analisa o impacto no PIB do estado este ano a partir do contexto de pandemia, já que ainda não possui projeções fechadas, mas o economista aponta que esse cenário já vinha mal desde a crise de 2015 e 2016, e foi agravado pela covid-19. “É um dos estados que mais sofreu com a crise anterior à pandemia, Sergipe já estava mal das pernas e a pandemia vem para agravar ainda mais a situação. E no contexto em que a Petrobras está saindo do estado, uma das principais empresas - do ponto de vista de encadeamento produtivo -, isso gera impacto ainda desconhecido, mas com certeza muito sério para a economia sergipana”, analisa Luiz Carlos Ribeiro.