Cachaça envenenada mata quatro em Riachão

A Polícia Civil concluiu o inquérito sobre a morte de quatro pessoas após a ingestão de bebida alcoólica no povoado Vivaldo, na zona rural de Riachão do Dantas, região Sul de Sergipe, no dia 21 de setembro passado. A perícia constatou, em um dos recipientes analisados, a presença de um pesticida usado em lavouras. Os detalhes da investigação foram apresentados nesta terça-feira (27), pela Secretaria da Segurança Pública (SSP).

A substância identificada como Metomil, um inseticida altamente tóxico, utilizado no combate a pragas em diversos tipos de lavouras, foi encontrada nos corpos das vítimas e em uma das garrafas com a cachaça analisada pelo Instituto de Análises e Pesquisas Forenses (IAPF).

"Analisamos as três garrafas e um galão azul. Em apenas uma garrafa encontramos o veneno. Possivelmente, as vítimas ingeriram a cachaça que estava presente na mesma garrafa", disse o perito criminal do IAPF Ricardo Leal 

De acordo com o delegado Allison Lial, responsável pela investigação, não houve, por parte dos envolvidos, a intensão de matar, mas o caso não deve ser tratado como acidente.
“As mortes foram decorrentes de uma conduta culposa, ou seja, não houve a intenção. A senhora fazia a coleta das substâncias vegetais na mata e no quintal de casa. A coleta era feita e não passava por um processo de lavagem. Era tão artesanal que a lavagem do recipiente não era adequada”, relatou.
Ainda de acordo com o delegado, a comercialização de bebida alcoólica era feita no local há dois anos, sem nenhum incidente. A manipulação era feita pelo casal, que apenas passava água no recipiente de refrigerante e logo em seguida despejava a cachaça limpa. Em algumas garrafas a esposa adicionava ervas como barbatimão, casca de pau, quebra- pedra e cidreira. 

O delegado diz ainda que, antes dos óbitos, a responsável pela bebida e uma irmã dela consumiram a bebida e passaram mal, chegaram a ser atendidas no hospital e liberadas, mas não desconfiaram da cachaça. 

"No dia 21, houve a venda para uma das vítimas, que veio a óbito. No dia seguinte, a venda para mais três pessoas que também passaram mal, sendo que houve novos óbitos”, disse o delegado.

O casal vai responder em liberdade e foi indiciado de forma culposa pela venda da bebida alcoólica contaminada e por corromper, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício, tornado-o nocivo ao consumo humano. 

Outros casos 

Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP) nos últimos quatro anos, quinze pessoas morreram após intoxicação com o Metomil. O praguicida tem alta toxicidade e é usado na lavoura de forma indiscriminada. 

Caso semelhante ao de Riachão ocorreu no ano de 2017 no Povoado Floresta, em Nossa Senhora das Dores, quando três pessoas de uma mesma família morreram depois de ingerir a substância de forma acidental.