Aracaju registra aumento de mais de 30% em homicídios na pandemia

Os registros de crimes de homicídios dolosos tiveram um aumento de mais de 30% em Aracaju durante a pandemia, aponta um estudo do Laboratório de Economia Aplicada e Desenvolvimento Regional (Leader) da Universidade Federal de Sergipe (UFS). De acordo com os dados, esse tipo de crime saltou de 70 para 91 casos entre os meses de março e julho, período considerado de eclosão da pandemia, em comparação com o mesmo período de 2019.

Com base em dados da Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal da Secretaria de Estado da Segurança Pública (CEACrim), o levantamento observa também que o registro de furtos na capital sergipana caiu de 3.099 para 2.013 (- 35,0%), e o de roubos passou de 4.194 para 1.947 (- 53,6%) no período analisado. Foi observada ainda redução nos casos de violência doméstica, de 167 para 119 (- 28,7%), no comparativo entre março e julho passados e no ano de 2019. 

"Em decorrência da pandemia do novo coronavírus, era possível esperar por uma queda em crimes como roubo e furto, em função da menor presença de indivíduos nos espaços públicos, bem como do fechamento de diversos negócios. Já a presença de potenciais agressores por mais tempo em casa poderia exacerbar os casos de violência doméstica, mas o registro desses casos caiu na capital e interior", diz o professor de Economia da UFS Marco Antônio Jorge, autor da análise.

Casos de homicídios por bairro

Entre março e julho de 2020, seis bairros (Santa Maria, Cidade Nova, Jardim Centenário, Bairro Industrial, Santos Dumont e Zona de Expansão) responderam por 40 dos 91 homicídios dolosos cometidos em Aracaju, ou seja, 44% dos casos da capital. Houve uma redução na concentração desse tipo de crime em relação ao mesmo período de 2019, quando esses bairros representavam 51,4% dos casos ocorridos (36 de 70).

"Dos quatro crimes analisados, o homicídio doloso é o único que aumenta entre 2019 e 2020. Vale lembrar que os casos de homicídio caíram no estado em 2019, mas começaram a crescer nos dois primeiros meses deste ano em comparação a 2019. Mas este não é um cenário exclusivo do estado de Sergipe. Esse cenário reverte a queda apresentada no período de pré-pandemia, o que pode decorrer do recrudescimento na competição do crime organizado pelo mercado de drogas", frisa o professor.

Ele também chama a atenção para diferenças intraurbanas significativas. Isso porque 14 bairros não tiveram nenhum caso de homicídio entre março e julho deste ano. Eram 20 ano passado. Houve ainda queda em 7 localidades, aumento em 18, e 16 bairros não apresentaram qualquer variação no período.

Violência doméstica

Em termos de variação percentual sobre o registro de violência doméstica, o Siqueira Campos apresentou o aumento mais expressivo: 500% (de 1 para 6 casos), seguido de Getúlio Vargas, 100% (de 2 para 4 casos); São Conrado 33,3% (de 6 para 8 casos); e Santos Dumont 20,0% (de 10 para 12 casos).

Por outro lado, Coroa do Meio (-78,6%), Santa Maria (-30,4%), Jardim Centenário (-83,3%) e Centro (-71,4%) registraram as maiores reduções no período analisado. Outros seis bairros zeraram seus casos em relação ao ano anterior: Atalaia, Cirurgia, Dezessete de Março, Luzia, Palestina e Treze de Julho.

"Apesar de se configurarem como uma boa notícia, os números em queda nesse tipo de crime contradizem o previsto, em função do maior confinamento de agressores e vítimas potenciais. Assim, pode estar ocorrendo um aumento, ou mesmo a manutenção do número de casos, enquanto há uma queda no registro: sob as vistas do agressor, além do temor de contrair a covid-19 no deslocamento para a delegacia, há menos registros," ressalta o professor.

Roubos e furtos

"Em linhas gerais, conforme esperado, os crimes contra o patrimônio são mais numerosos do que os crimes contra a pessoa, além de mais comuns nos locais mais populosos e de maior dinamismo econômico. Isso está ligado a diminuição na circulação de pessoas e a redução da atividade econômica," aponta Marco Antônio Jorge.

Em termos percentuais, Dezessete de Março (-78,6%), Porto Dantas (-70,0%) e Jardim Centenário (-62,1%) contabilizaram as quedas mais expressivas de furtos na capital sergipana entre março e julho deste ano. Já as maiores variações quanto aos roubos ocorreram no Dezessete de Março, que caiu de 40 para 4 casos (-90,0%), Pereira Lobo de 27 para 4 (-85,2%), e Treze de Julho, de 45 para 12 (-73,3%).

Projeto EpiSergipe

A Universidade Federal de Sergipe firmou uma parceria com o Governo do Estado para o desenvolvimento de um projeto que visa acompanhar o grau de contaminação e os impactos do novo coronavírus em Sergipe. O investimento é de R$ 4.160.000,00 através de emenda parlamentar. Subdividido em três vertentes, o projeto tem duração de um ano e consiste em monitorar o nível de infecção por covid-19, identificando-se a prevalência em quinze municípios, estimar os impactos socioeconômicos da pandemia no estado e acompanhar os impactos sociais da pandemia em populações vulneráveis.
 

*Com informações da UFS