Adolescentes negros são barrados em shopping e DAGV investiga possível crime racial

A Polícia Civil já está investigando se adolescentes negros foram vítimas de crime racial por homens descaracterizados, que se apresentaram como policiais à paisana, no último sábado, 12, na entrada principal do Shopping Riomar, no bairro Coroa do Meio, na Zona Sul de Aracaju. Os jovens de 18, 17 e 16 anos alegam que foram impedidos de ter acesso ao centro de compras, sob a justificativa de que só poderiam entrar no espaço acompanhados dos pais ou responsáveis.

“Eles (supostos policiais) alegaram para os meus filhos que havia uma decisão de uma juíza que proibia a entrada de adolescentes sem estar acompanhado de um responsável. Um dos garotos tentou filmar a situação e foi empurrado por um dos homens, que ainda obrigou ele a apagar a gravação. Logo em seguida uma viatura da Polícia chegou e revistou todos os garotos com truculência, envergando os meninos e dizendo frases como ‘o rolê de vocês é na cinelândia’”, afirma indignada a mãe de dois garotos, Josineide Santana.

Assim que soube da situação, a mãe dos garotos disse que se deslocou até o shopping e questionou o setor administrativo qual o motivo daquela ação, mas, segundo ela, ninguém soube explicar. “Tanto os homens do lado de fora quanto o pessoal de dentro do shopping não mostraram nenhum documento que justificasse aquela ação. Ninguém explicou nada. Dentro do shopping, vi diversos adolescentes sozinhos, circulando sem serem barrados. Por toda essa situação e pelas frases que foram ditas pelos homens na porta do shopping, só deixa evidente o racismo e o preconceito territorial”, afirma Josineide.

O caso foi registrado na Delegacia de Atendimento a Grupos Vulneráveis (DAGV) e a Polícia Civil já está investigando se houve o crime racial. O depoimento da mãe dos jovens foi colhido nesta semana e um ofício já foi encaminhado para a administração do Shopping para esclarecimentos.

A Comissão de Igualdade Racial da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB/SE) também está acompanhando o caso. “Assim que a gente soube, primeiro fizemos o acolhimento das vítimas, porque são casos que nos chocam e chocam a instituição, pelo fato de ainda ter que conviver com esse tipo de atitude. A gente tá falando de um grupo empresarial grande aqui no Estado, que tem muita importância, e não esperamos esse tipo de conduta. Então fizemos o acolhimento da vítima, atendimento com encaminhamento correto, e agora a apuração de possível crime racial”, explica o presidente da Comissão, Carlos César Zuzarte.

Ainda chocada com a situação, a mãe dos garotos disse que um dos filhos estava com medo de levar a denúncia adiante, com receio de perseguição. “É triste essa situação, porque não é a primeira vez que acontece. Além dos meus filhos e os colegas, havia muitos outros adolescentes na mesma situação (barrados) na frente do shopping. A gente está aqui denunciando, na expectativa de que eles também se pronunciem, façam valer as suas vozes. É preciso lutar pelos direitos de cada um, porque ninguém pode ser barrado em um local só pela cor da pele ou pelo local em que mora. É assim que as coisas estão acontecendo aqui, com os filhos da gente sendo marginalizados”, desabafou a mãe.

O Portal Fan F1 acionou o setor de comunicação do Shopping Riomar, que informou para a nossa equipe que ainda não foi notificada por nenhuma das partes sobre a situação.

Fonte: FanF1