Estudo da UFS indica circulação do covid19 em Aracaju um mês antes da confirmação do primeiro caso

O novo coronavírus possivelmente já circulava em Aracaju antes do primeiro diagnóstico registrado, em Sergipe, no dia 14 de março deste ano, segundo estudo de pesquisadores do Centro de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS). A pesquisa foi divulgada no Journal of Infection, nesta segunda-feira (30).

No estudo, foram analisadas 987 amostras de soro, coletadas entre janeiro e abril deste ano para exames de rotina, sem causa relacionada à covid-19. Destas, dezesseis tiveram resultado positivo para imunoglobulinas SARS-CoV-2 (IgM e IgG). A análise foi feita no Laboratório de Bioquímica Clínica do Departamento de Farmácia da UFS (Labic), por meio de dois testes de diagnóstico in vitro: imunocromatografia e imunofluorescência.

A média de idade dos pacientes analisados foi de 38,9 anos, variando do nascimento aos 90 anos. Destes, 683 eram mulheres. Dos casos positivos, treze eram do sexo feminino e três do sexo masculino. Sete amostras foram positivas para IgM, três positivas para IgG, e seis positivaram para ambos os anticorpos.

As amostras foram coletadas por um laboratório privado, mantidas congeladas no banco de sangue a – 80°C, e testadas para averiguar a presença de anti-SARS-CoV-2 IgM e IgG. Elas eram consideradas positivas apenas se fossem positivas em ambos os ensaios. Aqueles com apenas um teste positivo foram repetidos. Do total, 1,6% das amostras foram positivas para ambos os ensaios, 968 deram negativas e três indeterminadas.

De acordo com o professor do Departamento de Medicina da UFS, Ricardo Queiroz Gurgel, “o estudo ratifica a necessidade de se estabelecer uma vigilância contínua em saúde diante da possibilidade de surtos. Já tínhamos notícia do novo vírus circulando na Europa antes das primeiras confirmações de contaminação no estado de Sergipe”.

O primeiro caso confirmado, em Sergipe, foi de uma mulher, 36 anos, moradora de Aracaju, que voltou de viagem da Espanha, no dia 14 de março deste ano.

O pesquisador ainda relembrou o caso das amostras de esgoto coletadas em Santa Catarina, sugerindo que o vírus já circulava há três meses e, possivelmente, entre infecções assintomáticas.

Já segundo o professor do Departamento de Farmácia da UFS, Lysandro Borges, “é possível que a maioria dessas infecções com resultado positivo para o novo coronavírus fosse de pessoas assintomáticas no momento da coleta, uma vez que as amostras de soro foram coletadas para triagem de rotina de procedimentos pré-operatórios ou para monitorar a presença de outras comorbidades”.