A assistência domiciliar em tempos de pandemia

Historicamente, grande parte dos cidadãos brasileiros têm dificuldade no acesso à Saúde. Na área pública, observamos ilhas de excelência e um oceano de deficiências na oferta de serviços e insumos, com verbas frequentemente distribuídas de maneira ineficiente, ineficaz, e, por vezes, questionável. 

Na área privada, o modelo “hospitalocêntrico” gira em torno do tratamento em unidades especializadas, da alta complexidade, com um olhar direcionado à cura. Porém, com custos relevantes aos sistemas e pondo em segundo plano performance e resultados, em função desses indicadores não serem exigidos em nossa cultura “fee for service” (serviços pagos pela quantidade realizada).

A atenção domiciliar, embora devesse ter um papel relevante já na prevenção, com a associação de forma complementar ao tratamento e depois à reabilitação (pós-instalação de sequelas), ainda é tida como mera alternativa (ou progressão) à internação hospitalar, e destinada a pacientes em estágios crônicos de doenças, os chamados pós-sequelados e/ou terminais, em paliação. Seu potencial, no entanto, prova-se cada vez maior, o que indica que deve tomar um papel de protagonista no que diz respeito à área da saúde.

A disruptura social e sanitária causada pela pandemia da COVID-19 gerou uma ocupação em massa de leitos clínicos intensivos, de urgência e de internamento, que já vinham em franca queda de oferta (redução de 34,5 mil leitos hospitalares desde a crise do H1N1 – 2009- Portal Terra) e de políticas de incentivo e sustentabilidade do sistema.  

Esse fenômeno fez com que os diversos níveis de gestão voltassem o olhar à assistência domiciliar para prevenção, tratamento e recuperação de pacientes. A modalidade apresenta-se como uma alternativa para casos estáveis, porém necessitados de cuidado, aliando-se a hospitais e equipes multidisciplinares na oferta de um processo de desospitalização seguro. 

O mundo posterior à crise instalada, certamente trará às empresas de atendimento domiciliar uma realidade ainda mais estável e um melhor ambiente de crescimento. Nesse contexto, novas tecnologias de informação, de controles vitais à distância e maior comunicação devem gerar excelência em eficácia e efetividade ao acompanhamento dos pacientes assistidos, além de uma forte interação com Planos de Saúde contratantes. 

A união desses fatores, aliados a uma maior acessibilidade à assistência domiciliar, maior qualidade de vida e satisfação dos usuários, bem como um importante aumento das relações de confiança entre prestadores e contratantes é onde, todos juntos, queremos chegar.