Professor: as transformações e desafios da profissão em meio à pandemia

Professor, palavra a definir o profissional que dedica seu tempo a ensinar, a transformar, através da educação, a vida de milhares de crianças, adolescentes, jovens e adultos, oportunizando ao aluno os primeiros passos e o avanço no conhecimento. O dia em homenagem aos professores foi decretado em 14 de outubro de 1963, marcando a data do decreto do imperador Dom Pedro I emitido em 15 de outubro de 1827, determinando a criação de escolas de primeiras letras em todas as cidades, vilas e lugares com significativa população no país.

Hoje, esses educadores, muitas vezes não reconhecidos, se deparam com novos aprendizados, experiências e transformações da profissão em meio à pandemia do novo coronavírus, que impôs o ensino remoto entre as várias medidas de prevenção. O desafio de manter o foco do aluno e estimular a atenção no estudo em casa, cercado por distrações; o combate à evasão escolar; a busca pela participação dos pais ou responsáveis no processo de aprendizagem do aluno; a necessidade de aprender ferramentas e plataformas e desenvolver novas habilidades, transformaram a rotina desses profissionais, que se viram obrigados a utilizar novos recursos de ensino.

“Apesar de algumas pessoas externalizarem a ideia de que o trabalho do professor diminuiu, na verdade ele praticamente triplicou. Isto porque agora não basta planejar as aulas, é preciso planejá-las sempre com novos recursos, gravar e editar vídeos, elaborar muitas tarefas online em substituição às atividades que antes eram presenciais", afirma Fagner Costa, professor de História de uma escola particular em São Cristóvão. "Um vídeo que pode durar de 30 a 50 minutos pode levar até dois dias para ficar realmente pronto e ser publicado. São muitas atribuições que não existiam antes. Trabalhamos mais, porém sem receber mais. Este fato é importante de ser considerado não como uma insatisfação pela quantidade de trabalho, mas sim pela necessidade de reconhecimento do esforço do professor”, complementa. 

A professora Arabela Oliveira, que leciona em Aracaju e São Cristóvão, leciona na rede pública e privada, o que lhe possibilitou treinamento para usar plataformas e manter a escola online. "Usei a experiência da escola particular na pública e, apesar de não atingir a maioria, tenho excelente retorno. Passo 10 ou 12 horas na frente do computador; quando não estou planejando ou ministrando aulas, estou estudando meios de chegar aos alunos e trazer para as aulas", relatou ao F5News. "Na escola particular a aula é ao vivo, mas há atividades gravadas. Ao vivo conseguimos tirar dúvidas e realizar as atividades com eles. Nas aulas gravadas, ficamos à disposição via sala de aula virtual ou WhatsApp para as dúvidas. Fazemos plantão porque, mesmo postando as atividades pela manhã, temos que esperar o aluno acessar e alguns acessam quando os pais chegam do trabalho. Também houve mudança na profissão, estamos no foco das famílias que passaram a ver nosso trabalho junto com os alunos”, diz ainda.

E é diante desse turbilhão que surgem outras dificuldades, desde a concentração dos alunos à motivação para que participem das aulas, como também a carência de ferramentas de inclusão digital para os estudantes. “Há prazos para serem cumpridos e há alunos que não conseguimos atingir, infelizmente, principalmente na escola pública. Muitos alunos não têm acesso, essa é a maior dificuldade. Contudo, continuamos na busca ativa por todos. Na escola pública houve uma tentativa de aulas ao vivo, porém a quantidade de alunos online era mínima e percebemos que a questão da internet e aparelhos como smartphones era um grande empecilho. Apesar de todo o esforço feito, houve muitas perdas. Houve doenças físicas e emocionais. O que não houve foi desistência da nossa parte, fizemos e faremos o que for necessário para manter a escola viva e ativa”, continua a professora.

O professor Carlos Alexandre Aragão, que leciona em Monte Alegre, diz que exercer a profissão de professor no período da pandemia foi um dos maiores desafios que ele já enfrentou. "Estava habituado ao ensino presencial, contato direto com os estudantes e de uma hora para outra passei a interagir com eles virtualmente. Momento difícil, porém houve uma quebra de paradigmas. Aqui destaco como o maior paradigma o contato mais intenso entre o universo tecnológico como meio, imprescindível, para o processo de ensino aprendizagem através do contato remoto. Tive que aprender sozinho”, relata.

Para o educador, esses dois universos podem caminhar juntos e demonstrando eficácia, com os sujeitos envolvidos tendo acesso aos meios necessários. No entanto, ele salienta a importância do olho-no-olho que acontece no espaço da escola. “Ele é fundamental para uma maior interação entre estudante e professor. A saída da zona de conforto e experimentar novas perspectivas são algumas das lições que levarei como aprendizado, mas a energia do calor humano nunca será substituída por alguma tecnologia. É essa energia que impulsiona o ato de ser professor”, acredita Carlos Alexandre.

Por outro lado, os aparatos tecnológicos oportunizaram novos métodos de ensino aos alunos, que precisam estar conectados diariamente aos meios digitais para acompanhar as aulas. “Se por um lado tivemos que lidar com o desânimo de muitos alunos e realizar uma urgente atualização em termos de tecnologias educacionais, por outro lado tivemos fortes estímulos para rever nossos próprios métodos de ensino e aperfeiçoá-los", analisa o professor Fagner Costa. "A atualização tecnológica tem proporcionado inúmeras possibilidades de dinamização do ensino. A própria Base Nacional Comum Curricular já propunha, entre muitas contribuições, o desenvolvimento da cultura digital. O contexto das aulas remotas trouxe a oportunidade de desenvolver essa cultura em muitos níveis”, diz.

“Ser professor já era um desafio nesse século porque nossos estudantes pertencem a essa era digital, imagine que temos que aprender todo dia, nos reinventar a cada aula. Eu estudo todo dia, assisto aula, faço cursos, vejo novidades, converso com colegas de vários lugares do Brasil e do mundo para dar aula hoje. O maior aprendizado foi que podemos aprender, mais e sempre. Podemos fazer mais pelos alunos e pela escola. Podemos crescer todo dia quando somos desafiados”, acrescenta Arabela Oliveira.

Para Fagner Costa, uma das grandes dificuldades em todo esse cenário é justamente a adaptação a tantas mudanças que ocorrem muito rapidamente - uma das características do mundo tecnológico, lembra ele. "Nesse sentido, não podemos perder de vista que não é a tecnologia por si só que opera o processo de ensino-aprendizagem. O professor precisa ser um mediador e um facilitador, sempre tendo empatia e sensibilidade diante dos alunos”, afirma, acrescentando que muitos têm desenvolvido projetos com o intuito de ajudar seus alunos a desenvolver competências e habilidades.

A professora Arabela Oliveira observou significativa evolução.“Todo professor cresceu muito nessa pandemia, pirou um pouco, sofreu bastante, mas se reinventou e deu seu melhor. Nos colocamos no lugar do aluno e descobrimos um mundo de possibilidades. A maior lição é que não estou só. Há uma corrente de professores unidos pelo bem comum, pela educação de qualidade e estamos juntos para crescer sempre mais, estudando e trabalhando muito e incansavelmente para atingir a todos", diz ela. "Somos aplaudidos e criticados, temos família, temos problemas e temos esperança de ensinar e aprender”, completa

Em Sergipe, as aulas nas escolas da rede pública e privada continuam de forma remota. No estado ainda não há data prevista para a volta das atividades presenciais. Nesta quinta-feira (15), o governo volta a se reunir em busca de uma definição.

Alguns estados já liberaram o retorno ao espaço escolar; em outros esse processo ainda ocorre de forma gradual e há ainda as aulas presenciais seguem suspensas – outro desafio mediante a pandemia num momento em que ainda não há vacina contra a Covid-19.

 

Edição de Texto: Vanessa Ribeiro